segunda-feira, 25 de julho de 2011

O calcanhar de Aquiles

Aquiles, o lenhador da avenida,
pisou uma família de pardais
e foi mordido (não se sabe muito mais)
numa parte do pé desconhecida.

Aquilo que se segue, já são histórias,
que Arco-da-Velha guarda como suas.
Aquiles nunca mais abateu ruas
"terá seguido as lides piscatórias

(...) desfiava o machado em alto mar
quando um salmão o arrastou pelo anzol."
Faleceu, baptizado ao pôr-do-sol
- há quem diga - "não fincou o calcanhar!"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Olav bateu as botas

Foi uma tragédia tal, essa manhã,
Que faria qualquer um cair para o lado:
Eis o caso de Olav (esse titã),
Que ganhou fama e merece ser contado. 

O pobre - que não se encontra entre nós -
Como sempre, acordou com os pés de fora.
(Tradição que já vinha dos avós,
Um casal de estatura assustadora.)

Perdeu, pois, a cabeça em descontrolo, 
Ao não caber nas botas que o patrão
Lhe oferecera, como era protocolo.

E bateu-as. Duas vezes. Contra o chão.
Foi descalço para a sua profissão, 
Que ainda hoje é - e será - fazer tijolo.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Parece

que vais a desfilar para o comboio
cheio. Avanças, altiva como as aves
raras serão as vezes em que fazes
questão de dar um pouco de paleio.

Maria vais com as outras pessoas
trabalhar. Tu, que lavas escadas com dor
de cotovelo afiado e matador,
pavoneias-te agora, devagar.

Eu cá fico para trás, a ver o plano
inteiro. Os olhares que te vão dar
troco um mês de salário para apostar
Que és imigrante num mundo estrangeiro.


quinta-feira, 12 de maio de 2011

Estava um rato no meu computador



Era um dia um rato branco,
Sem beleza nem
o encanto
De um bicho da natureza.
Preso a um computador
Pelo fio do labor,
Arrastava-se na mesa.

Sendo a fome um mal maior,
Que lhe retirava a cor,
A transparência reinava.
Branco de neve no espelho,
Viu no seu próprio aparelho
Uma maçã desenhada.

Deu-lhe uma dentada o rato.
Coitado! Mesmo sem prato,
Imaginou um manjar.
Mas, o pobre do animal...
Foi uma trinca fatal!
Que pôs o mundo a pensar.

O próprio computador,
O patrão, dono e senhor
De toda a sabedoria,
Descurou que um rato preso
A trabalhar, com desprezo
Até veneno comia.

A maçã adulterada
Não foi caso para risada
Na história do rato nu
Pois agora outro rato
Já tem um novo contrato
Que se chama Bluetooth

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Durante amanhã.

O sol riscava o céu, no azul em tela.
Corri, com energia, os vidros baços.
E para sentir a força dos seus traços,
emoldurei a janela.

Mas uma nuvem entornou - que desalento -
os retoque que fizera a uma gaivota.
Pois, sem que eu o esperasse, abriu-se a porta.
Verti o pensamento.